Neste ano, o mais bem
ranqueado tenista brasileiro vem passando por um dos piores momentos de sua
carreira. O mau momento de Bellucci é evidenciado quando observamos que sua
última vitória contra um jogador Top 50 aconteceu apenas na edição passada de
Roland Garros. No Grand Slam francês, Thomaz Bellucci venceu o até então número
44 do mundo, o cazaque Andrey Golubev, parciais de 6/4 6/4 6/7(4) 7/6(5). A
queda vertiginosa do brasileiro no ranking deve ser observada com naturalidade,
afinal de contas um jogador que não consegue, há cerca de 10 meses, vencer oponentes
próximos a si no ranking tende naturalmente a cair.
Outro dado que merece ser levantado na tentativa de elucidar a queda de Bellucci
diz respeito às vitórias seguidas do brasileiro. Ou melhor, a ausência delas.
Desde o Master 1000 de Madri, Bellucci não sabe o que é vencer três partidas
seguidas. Extremamente preocupante, não?! Para quem não lembra, o Master 1000
de Madri foi aquele torneio no saibro impecavelmente jogado pelo brasileiro.
Além de vencer os ótimos Pablo Andujar e Florian Mayer, Belucci surpreendeu a
todos ao vencer o britânico Andy Murray e o tcheco Thomas Berdych. Parou apenas
na semifinal contra um Djokovic que vivia (e ainda vive) um momento iluminado.
O jogo foi duríssimo para o sérvio, que chegou a ver o adversário um set acima e
com uma quebra de vantagem.
Será que Thomaz Bellucci
ainda não conseguiu se recuperar do baque psicológico de ter perdido um grande
jogo em que tinha alguma possibilidade de vitória? Será que o brasileiro não
foi capaz de lidar com a pressão para manter um nível exibicional absurdo? Ou,
será, ainda, que Bellucci confiou demais no excelente nível de tênis jogado
naquela semana e acabou relaxando? Provavelmente a resposta para todas as
indagações é negativa. Inegável, por outro lado, é o fato de que, atualmente, o
brasileiro encontra-se em maus bocados.
Neste momento de “crise”,
se é que podemos dizer assim, é fundamental que o tenista, junto a sua
comissão, analise os fatores preponderantes a serem ajustados em seu jogo. Não
quero dizer com isso que acredito no potencial do brasileiro para atingir e se
manter no top 20. Todavia, em seus melhores momentos, Bellucci deu mostras de que
é capaz de se sustentar entre os 30 melhores tenistas do mundo.
Como acompanhante da
carreira de Thomaz Bellucci há alguns anos acredito ter alguma legitimidade –
ainda que pequena – para delinear os pontos de seu jogo que necessitam ser
ajustados com maior urgência. O primeiro deles e mais grave, sem dúvida
nenhuma, é o aspecto psicológico. Há uma vasta quantidade de jogos, sobretudo,
contra adversários inferiores em que o mental deixa Bellucci na mão.
Completamente sem reação. O mental do brasileiro é de uma peculiaridade tamanha
que fora criado no twitter o perfil “BelluccisBrains”. Dono de uma comicidade
de dar inveja, o twitter em questão “lida” de forma bem humorada com o
psicológico do brasileiro.
Outro ponto passível de bastantes críticas refere-se a sua devolução de
serviço, principalmente quando se trata de devolver o segundo saque do
adversário. Não pretendo, aqui, realizar uma minuciosa análise estatística a
fim de comprovar essa carência no jogo do brasileiro. Por outro lado, acredito
que todos aqueles que acompanham razoavelmente os jogos do brasileiro sabem de
suas deficiências na devolução. Ah se ele pudesse ter umas aulinhas com o
Djokovic... Sonho demais! Mas uns treininhos de devolução com David Nalbandian
ali na Argentina não cairiam nada mal, hein?!
Pretendo tentar
demonstrar, ainda, “falhas” na elaboração do calendário de torneios de Bellucci
em 2011. Logo após o Master 1000 de Miami, em que foi derrotado na primeira
rodada por James Blake, Bellucci poderia ter jogado um dos ATPs da semana
seguinte: Casablanca, no Marrocos, ou Houston, nos Estados Unidos – ambos
disputados no saibro. Frise-se, ainda, que Houston e Casablanca foram vencidos
por Sweeting e Andujar, respectivamente, jogadores totalmente vencíveis.
Após ser derrotado logo
na primeira rodada do Master 1000 de Roma pelo italiano Paolo Lorenzi, acredito
que o brasileiro poderia jogar, na semana seguinte, o mediano ATP 250 de Nice,
na França. Neste caso, ainda entendo relutantemente a recusa de Bellucci, visto
que Roland Garros aconteceria na semana subseqüente.
Algumas meses depois, já
passada a nefasta gira européia de grama, Bellucci jogou no dia 08/07/2011
contra Martin Cuevas, pelo duelo entre Brasil e Uruguai na Davis. Entendo e
louvo, inclusive, o fato do brasileiro, após a precoce eliminação em Wimbledon,
ter focado os treinos para esta competição. Todavia, não consigo compreender de
maneira alguma como o brasileiro deixou de jogar o ATP 250 de Bastad, Suécia, ou
de Stuttgart, Alemanha – disputados no saibro. Inexplicável, também, foi a
opção do brasileiro por não jogar o ATP 500 de Hamburgo, disputado no saibro. Passadas
duas semanas sem atuar, Bellucci voltou a jogar em Los Angeles, ATP 250 disputado
nas rápidas americanas. Por que não optou por um dos ATPs 250 – Gstaad (Suíça)
e Umag (Croácia) – jogados no saibro? Não
encontro respostas plausíveis.
Posteriormente a
inacreditável eliminação do brasileiro do US Open, onde perdeu de virada para o
israelense Dudi Sela, e o confronto entre Brasil e Rússia pelos playoffs do
grupo mundial da Copa Davis iniciado no dia 16/09, Bellucci só voltou a jogar
no dia 3/10 pelo ATP 500 de Pequim. Não seria possível disputar o ATP 250 de
Bangkok ou o ATP 250 de Kuala Lumpur com inicio no dia 26/09? No meu ponto de
vista, o brasileiro deveria dar ênfase nas rápidas aos torneios mais
enfraquecidos, como os em questão.
Em síntese, quero
dizer que Bellucci erroneamente organizou um calendário digno de um top 10,
incompatível com seu nível de tênis. Diante dessa constatação, entendo que o
brasileiro deveria priorizar os torneios jogados no saibro, indubitavelmente o
piso em que obtém melhores resultados. Torneios nas rápidas e na grama deveriam
ser a última hipótese do brasileiro. Nestes casos, caberia a ele promover uma
escolha criteriosa, priorizando os torneios mais enfraquecidos.
Sob a visão otimista que
carrego, considero que a queda de Bellucci no ranking pode até fazer bem. A
tendência cada vez mais evidente do brasileiro despencar ainda mais no ranking,
dado que dificilmente defenderá a semifinal do Máster 1000 de Madrid, pode servir
como um bom “tapa na cara” do brasileiro. Quem sabe ele não acorda e volta a
trilhar seu caminho de volta ao top 30... Esse posto pode ser plenamente ocupado pelo
brasileiro, que já demonstrou ter talento e jogo para tanto. Não se manteve por
lá principalmente devido aos aspectos mental e físico que, muitas vezes, deixaram-no
na mão.
Escrito por Henrique Monteiro (@RiqueMonteiroS) com participação de Marcelo Chaar (@m_chaar), os idealizadores do blog.