segunda-feira, 5 de março de 2012

Minha nada particular visão sobre Bellucci


Neste ano, o mais bem ranqueado tenista brasileiro vem passando por um dos piores momentos de sua carreira. O mau momento de Bellucci é evidenciado quando observamos que sua última vitória contra um jogador Top 50 aconteceu apenas na edição passada de Roland Garros. No Grand Slam francês, Thomaz Bellucci venceu o até então número 44 do mundo, o cazaque Andrey Golubev, parciais de 6/4 6/4 6/7(4) 7/6(5). A queda vertiginosa do brasileiro no ranking deve ser observada com naturalidade, afinal de contas um jogador que não consegue, há cerca de 10 meses, vencer oponentes próximos a si no ranking tende naturalmente a cair.

Outro dado que merece ser levantado na tentativa de elucidar a queda de Bellucci diz respeito às vitórias seguidas do brasileiro. Ou melhor, a ausência delas. Desde o Master 1000 de Madri, Bellucci não sabe o que é vencer três partidas seguidas. Extremamente preocupante, não?! Para quem não lembra, o Master 1000 de Madri foi aquele torneio no saibro impecavelmente jogado pelo brasileiro. Além de vencer os ótimos Pablo Andujar e Florian Mayer, Belucci surpreendeu a todos ao vencer o britânico Andy Murray e o tcheco Thomas Berdych. Parou apenas na semifinal contra um Djokovic que vivia (e ainda vive) um momento iluminado. O jogo foi duríssimo para o sérvio, que chegou a ver o adversário um set acima e com uma quebra de vantagem.

Será que Thomaz Bellucci ainda não conseguiu se recuperar do baque psicológico de ter perdido um grande jogo em que tinha alguma possibilidade de vitória? Será que o brasileiro não foi capaz de lidar com a pressão para manter um nível exibicional absurdo? Ou, será, ainda, que Bellucci confiou demais no excelente nível de tênis jogado naquela semana e acabou relaxando? Provavelmente a resposta para todas as indagações é negativa. Inegável, por outro lado, é o fato de que, atualmente, o brasileiro encontra-se em maus bocados.


Neste momento de “crise”, se é que podemos dizer assim, é fundamental que o tenista, junto a sua comissão, analise os fatores preponderantes a serem ajustados em seu jogo. Não quero dizer com isso que acredito no potencial do brasileiro para atingir e se manter no top 20. Todavia, em seus melhores momentos, Bellucci deu mostras de que é capaz de se sustentar entre os 30 melhores tenistas do mundo.

Como acompanhante da carreira de Thomaz Bellucci há alguns anos acredito ter alguma legitimidade – ainda que pequena – para delinear os pontos de seu jogo que necessitam ser ajustados com maior urgência. O primeiro deles e mais grave, sem dúvida nenhuma, é o aspecto psicológico. Há uma vasta quantidade de jogos, sobretudo, contra adversários inferiores em que o mental deixa Bellucci na mão. Completamente sem reação. O mental do brasileiro é de uma peculiaridade tamanha que fora criado no twitter o perfil “BelluccisBrains”. Dono de uma comicidade de dar inveja, o twitter em questão “lida” de forma bem humorada com o psicológico do brasileiro.

Outro ponto passível de bastantes críticas refere-se a sua devolução de serviço, principalmente quando se trata de devolver o segundo saque do adversário. Não pretendo, aqui, realizar uma minuciosa análise estatística a fim de comprovar essa carência no jogo do brasileiro. Por outro lado, acredito que todos aqueles que acompanham razoavelmente os jogos do brasileiro sabem de suas deficiências na devolução. Ah se ele pudesse ter umas aulinhas com o Djokovic... Sonho demais! Mas uns treininhos de devolução com David Nalbandian ali na Argentina não cairiam nada mal, hein?!

Pretendo tentar demonstrar, ainda, “falhas” na elaboração do calendário de torneios de Bellucci em 2011. Logo após o Master 1000 de Miami, em que foi derrotado na primeira rodada por James Blake, Bellucci poderia ter jogado um dos ATPs da semana seguinte: Casablanca, no Marrocos, ou Houston, nos Estados Unidos – ambos disputados no saibro. Frise-se, ainda, que Houston e Casablanca foram vencidos por Sweeting e Andujar, respectivamente, jogadores totalmente vencíveis.

Após ser derrotado logo na primeira rodada do Master 1000 de Roma pelo italiano Paolo Lorenzi, acredito que o brasileiro poderia jogar, na semana seguinte, o mediano ATP 250 de Nice, na França. Neste caso, ainda entendo relutantemente a recusa de Bellucci, visto que Roland Garros aconteceria na semana subseqüente.

Algumas meses depois, já passada a nefasta gira européia de grama, Bellucci jogou no dia 08/07/2011 contra Martin Cuevas, pelo duelo entre Brasil e Uruguai na Davis. Entendo e louvo, inclusive, o fato do brasileiro, após a precoce eliminação em Wimbledon, ter focado os treinos para esta competição. Todavia, não consigo compreender de maneira alguma como o brasileiro deixou de jogar o ATP 250 de Bastad, Suécia, ou de Stuttgart, Alemanha – disputados no saibro. Inexplicável, também, foi a opção do brasileiro por não jogar o ATP 500 de Hamburgo, disputado no saibro. Passadas duas semanas sem atuar, Bellucci voltou a jogar em Los Angeles, ATP 250 disputado nas rápidas americanas. Por que não optou por um dos ATPs 250 – Gstaad (Suíça) e Umag (Croácia) – jogados no saibro?  Não encontro respostas plausíveis.

Posteriormente a inacreditável eliminação do brasileiro do US Open, onde perdeu de virada para o israelense Dudi Sela, e o confronto entre Brasil e Rússia pelos playoffs do grupo mundial da Copa Davis iniciado no dia 16/09, Bellucci só voltou a jogar no dia 3/10 pelo ATP 500 de Pequim. Não seria possível disputar o ATP 250 de Bangkok ou o ATP 250 de Kuala Lumpur com inicio no dia 26/09? No meu ponto de vista, o brasileiro deveria dar ênfase nas rápidas aos torneios mais enfraquecidos, como os em questão.



Em síntese, quero dizer que Bellucci erroneamente organizou um calendário digno de um top 10, incompatível com seu nível de tênis. Diante dessa constatação, entendo que o brasileiro deveria priorizar os torneios jogados no saibro, indubitavelmente o piso em que obtém melhores resultados. Torneios nas rápidas e na grama deveriam ser a última hipótese do brasileiro. Nestes casos, caberia a ele promover uma escolha criteriosa, priorizando os torneios mais enfraquecidos.

Sob a visão otimista que carrego, considero que a queda de Bellucci no ranking pode até fazer bem. A tendência cada vez mais evidente do brasileiro despencar ainda mais no ranking, dado que dificilmente defenderá a semifinal do Máster 1000 de Madrid, pode servir como um bom “tapa na cara” do brasileiro. Quem sabe ele não acorda e volta a trilhar seu caminho de volta ao top 30...  Esse posto pode ser plenamente ocupado pelo brasileiro, que já demonstrou ter talento e jogo para tanto. Não se manteve por lá principalmente devido aos aspectos mental e físico que, muitas vezes, deixaram-no na mão.

Escrito por Henrique Monteiro (@RiqueMonteiroS) com participação de Marcelo Chaar (@m_chaar), os idealizadores do blog.

3 comentários:

  1. Excelente texto, Henrique.
    Concordo plenamente com todas as questões levantadas. Houve um grande contraste entre o calendário de top10 e o tênis de top100 'comum' apresentado pelo Thomaz ano passado. Outro dia até brinquei com as dezenas de notícias que começavam por dizer "Bellucci vacila...". E infelizmente começou vacilando também em 2012. Depois de Madrid só Deus sabe o que pode acontecer com ele.

    Vejo potencial técnico para se manter no top30, mas de nada adianta se o mental continua sendo de juvenil. Veremos o que acontecerá nos próximos capítulos.

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    1. Obrigado, meu caro. Só o tempo irá dizer o que será... hahaha

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  2. Realmente o Bellucci tem muito que melhor, principalmente no psicológico, senão não vai pra frente!!
    Sobre o calendário, pra mim ele teve uma tática kamikaze, de querer priorizar as quadras rápidas quando ainda não era a hora, simplesmente colocaram a carroça na frente dos bois!!

    vai ver por isso a parceria com Larri não deu certo, ele queria exigir mais do Bellucci e o Bellucci não dava tudo de si!!

    quem sabe agora ele aprende e quem sabe ainda dá tempo de melhorar!!

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